Guerra, a guerra colonial posta em filme
Quem sabe um pouco da História recente de Portugal, saberá que a ditadura teve o seu fim no dia 25 de abril de 74, naquela que ficou romanticamente conhecida como a Revolução dos cravos. Mas, e antes disso? Sabem alguma coisa de como era a vida nas colónias portuguesas em África? E que desde 1961 se travava uma guerra entre a metrópole e algumas das colónias (Angola, Guiné-Bissau e Moçambique)? E que 90% da população masculina portuguesa foi mobilizada para essa Guerra do Ultramar que durou nada mais nada menos do que 13 anos?
É natural que o não saibam, já que, ao contrário do ocorrido nos EUA após a guerra do Vietname, em Portugal, desde 74 até há bem pouco tempo, não se produziram muitos filmes sobre essa temática. Nem se escreveram muitos livros, nem praticamente se ensinava nas escolas nada da história tão recente.
Na verdade, parece haver um mutismo sobre este assunto: as pessoas não falam entre si do sucedido nessa época. Para mais, quase em cada família lusa há algum membro que viveu a guerra in situ. Noutras famílias, houve gente que se exilou precisamente para fugir de semelhante destino bélico e não voltaram a Portugal até estar instalada a democracia. Outros nunca mais voltaram, engordando assim os números já inchados dessa mole de portugueses que vive no estrangeiro.
Na própria ditadura, também não se aludia à guerra, mas de “terroristas” que tentavam derrubar o Estado português e romper a hegemonia dessa nação pluricontinental, como o apregoavam nos tempos do ditador Salazar ou do seu herdeiro Caetano.
O filme
Celebro, pois, a estreia a 19 de janeiro de 2023, do filme Guerra, de José Oliveira e Marta Ramos, anteriormente estreado no Festival Internacional de Cinema Documental de Navarra.
A TSF diz-nos:
A longa-metragem pretende acabar com os silêncios entre os ex-combatentes e partilhar histórias entre os milhares de homens que participaram na Guerra Colonial.
Recordemos que este conflito causou 10 mil mortos e 20 mil inválidos entre os soldados.
Tudo começa numa reunião entre verdadeiros ex-combatentes, ou seja, atores amadores, que injetam “verdade” nesta longa-metragem que o realizador descreve como “a mais especial” da sua carreira, pois foi feita a partir da ideia do ator principal e coargumentista, José Lopes, já falecido.
O trailer